Lamento

Estou eu novamente pegando a estrada. Triste por estar deixando meu marido, assim como fico também triste quando venho e deixo meu filho.
Passo os dias a me lamentar, sonhando com o dia em que não precisarei me dividir.
Então acordo, e me deparo com a notícia: mais de 400 mortos nas enxurradas do Rio de Janeiro. Bombeiros mortos.
E os dados ainda vão piorar muito.
É este o verdadeiro lamento, não minhas fúteis tristezas.
Petrópolis, Teresópolis, Nova Friburgo... E outras cidades da região serrana do estado, todas arrasadas.
Gente que perdeu tudo, "não apenas os anéis, mas especialmente os dedos".
Perderam casas e famílias.
Precisam acordar hoje para reconhecer os corpos de seus entes.
Mesmo quem viu a terra passar ao largo, perdeu ao menos as referências de toda uma vida. Não encontram mais os vizinhos, a Igreja, as ruas, a escola...
Surpreende?
Foi inesperado?
Não chove tanto assim na região?
Não há moradias irregulares nas encostas e nas margens dos rios? E quando me refiro à "irregulares", incluo pobres e ricos.
É a primeira tragédia deste tipo no país?
Não, não e não, infelizmente.
E aí? Não se aprende o termo prevenção nas escolas dos políticos e cidadãos brasileiros...
Não se previne na saúde, não se previne na segurança, não se previne na urbanização. E os resultados são vistos diariamente nos telejornais.
Deus conforte estas e tantas outras famílias atingidas pelas últimas catástrofes brasileiras. E nos proteja, já que dizem ser brasileiro.