sexta-feira, 24 de junho de 2011

Dúvidas e certezas

Li várias vezes sobre os mecanismos de sabotagem de nosso corpo físico, quando nos livramos de uma boa quantidade de quilos.
Sei que nunca, jamais, perdemos as células adiposas, que ficam ali à espreita, aterrorizantes, maquinando formas de inchar novamente, ao menor excesso calórico que cometemos.
Sei que o nosso metabolismo reduz para níveis patéticos, acreditando que está passando por uma crise mundial de produção de alimentos, como uma Era do Gelo, ou algo parecido. Não conseguimos mostrar a ele que os trangênicos, os adubos químicos, os organofosforados e as formas de irrigação protegem a humanidade da escassez de comida... E que, se estamos ingerindo menos comida, é porque decidimos fazer isso conscientemente.
Sei que um tal hormônio chamado grelina, faz com que aumentemos o nosso apetite, para que voltemos a adquirir toda a maravilhosa reserva adiposa que possuíamos e que nos diferenciava positivamente dos seres desprezivelmente magros, que rapidamente morreriam ao menor sinal de aproximação da já mencionada e terrível Era do Gelo.
Para nosso corpo físico, quem tem a maravilhosa capacidade de caçar, comer a caça e armazenar suas reservas, tem maiores chances de sobreviver e perpetuar os seus genes...
Nosso corpo físico vive e “pensa” como há milhares de séculos.
Mas, e nosso corpo emocional?
Ele, sim, é recente.
Acho que nem existia há setecentos anos, quando praticávamos barbáries em nome de Guerras Santas. Em que fazíamos banquetes regados a pernis comidos com as mãos, vinho bebido dos gargalos, espadas em riste e dançarinas rodopiantes.
Não existia sequer há duzentos anos, quando ainda mantínhamos Seres Humanos como escravos, produzindo a nossa tão necessária comida e riquezas acumuláveis...
Não, nosso corpo emocional vem nascendo aos poucos, com a compreensão da diversidade e das igualdades. Com a luta por causas de justiça social, estas sim verdadeiramente santas. Nasce à medida em que o mundo se torna mais feminino, mais sensato, mais pacífico. E pode manter o corpo físico em seu devido lugar, sem determinar o que ou quanto devemos comer, o quanto devemos acumular de gordura.
Mas aí, nasce também a globalização. Nasce a cultura do consumo pelo consumo. Nascem as cracolândias, os latrocínios. Os motoristas bêbados, os pedófilos, a corrupção política.
E o nosso corpo emocional se une ao físico. Temos que comer para fugir da realidade. Temos que comer para entorpecer os nossos medos, nossas angústias. Criamos uma compulsão, a alimentação psicológica, para fugir da vida que hoje nos agride.
Nosso eterno problema com o peso é muito mais do que reeducação alimentar. É muito mais profundo do que a gula. Muitas vezes me pego comendo sem prazer no sabor, sem motivo aparente, apenas por comer. E é isto que preciso esmiuçar, destrinchar, compreender.
Enquanto não encontrarmos os verdadeiros motivos que nos fazem assaltar a geladeira, especialmente ao final de um dia monótono ou angustiante, vamos viver para esta luta. E deixar a vida passar ao largo...
Foi um post imenso, talvez com muitas besteiras ou pirações, mas é o que me aflige neste exato momento, em que estou lendo “Mulheres, Comida e Deus”.
Como um tratamento homeopático para alergias, talvez tenha que me expor aos antígenos que me incomodam, para aprender a reconhecê-los, lidar com eles, e não mais permitir que me façam mal. Tenho que descobrir os medos e certezas que estão atrás da compulsão. Trabalhar o corpo físico, mas também o corpo emocional.

Um comentário:

  1. Nossa, Nina!
    Que texto maravilhoso!
    E olhe que li o primeiro post, fiz o meu próprio post e depois vim responder aquele, para, depois, ler os posts mais antigos, já que andei viajando e não acompanhei!
    E você vai perceber a identidade de idéias, e mais, de sentimentos!
    Isso é a "pura verdade".
    Não há como pensar em extirpar o alimento de nossas vidas, porque ele funciona para muitos de nós, para muito além da simples nutrição.
    E, se não identificamos esses fatores, por mais que isso seja difícil,estranho, ou, aparentemente, até mesmo desnecessário, não passaremos de uma "infância emocional" que vive com medo do escuro...
    De fato,

    "Como um tratamento homeopático para alergias, talvez tenha que me expor aos antígenos que me incomodam, para aprender a reconhecê-los, lidar com eles, e não mais permitir que me façam mal. Tenho que descobrir os medos e certezas que estão atrás da compulsão. Trabalhar o corpo físico, mas também o corpo emocional."

    Aplaudi, de pé.
    Beijos.

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