segunda-feira, 5 de março de 2012

Helenas, Ailtons... e a violência aqui ao lado


Umas vezes penso por longo tempo em o que escrever.
Outras, os assuntos batem à nossa porta e invadem nossas vidas. Com uma fúria que só é igualada pela que cresce em nosso peito. E pelo vazio que segue depois.
A Helena trabalhou em nossa casa por cerca de 20 anos. Ajudou minha mãe a cuidar das filhas e do lar. Me ajudou a criar meu filho, e ainda ajudou minha irmã a criar as duas filhas.
Pessoa maravilhosa, mais do que muitas vezes os parentes o são.
Quando meu filho era ainda pequeno, chegou a passar algumas tardes em sua casa, durante suas férias, para matar as saudades.
Há três anos que não mais trabalha, já estava na hora de parar.
Minha mãe falou com ela ao telefone no sábado, saber de suas dores na perna, contar as novidades. Estava feliz com a formatura da filha em pedagogia, os quinze anos da neta. Conversaram a respeito da violência de seu bairro, um típico bairro pobre de Salvador, que vive nas páginas policiais. Dias antes, soubemos de mais um assassinato por lá e minha mãe ficou preocupada com eles.
Hoje, no noticiário, soubemos que um rapaz com o mesmo nome de um de seus filhos foi assaltado, reagiu, e acabou morto por vários tiros.
Há meia hora, a confirmação, pela própria Helena, de que havia sido seu filho caçula.
Os jornais falam de um homem assassinado no bairro do Arenoso, por causas desconhecidas. Mas não é "um homem"... É o Ailton, rapaz ajuizado e responsável, pai, que algumas vezes foi à minha casa quando eu era ainda adolescente. Que mesmo à distância acompanhamos crescer, estudar, casar.
Sua mãe, a mulher que cuidou com tanto carinho de meu filho, perdeu o seu por causa de uma bicicleta e um celular.
Pobre roubando pobre...
E o que nos sobra?
Acho que hoje, nem a indignação restou. Apenas um abraço e um beijo no coração eternamente partido da Helena

3 comentários:

  1. Ah, Nina nem me fale... é tanta violência que ás vezes fico com medo de não me indignar mais.

    Só mesmo um abraço apertado e muito carinho numa hora dessas.

    Bjus 1000 minha querida

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  2. Ai amiga..que triste..e que texto lindo....Tenho medo de Salvador..A violência é tão assustadora. As pessoas tão frias....

    bjsss

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  3. Sinto pelo Ailton e pela Helena...
    Sinto pelos Ailtons e pelas Helenas...
    Sinto por você, sinto por mim...
    Sinto pela raça humana...
    Beijos, querida.

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Fique à vontade... Vou gostar de saber sua opinião.

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