Ana Maria Braga recebeu a visita de Dulce Braga, escritora Angolana que retratou em um livro, Sabor de Maboque, a fuga de sua família de Angola no início da guerra civil.
Para mim foi uma emoção especial, pois retrata também a minha vida e a de minha família.
Era mais nova, um bebê de 2 anos, não vivi o medo e o terror. Mas sofri as perdas.
Fugimos inicialmente eu, minha mãe e minha irmã, na época com 5 anos. Fomos para Portugal, aguardar por meu pai, que ainda tentou manter os laços e o patrimônio.
Por algumas semanas, viveu com um grupo de amigos fugindo das áreas onde os tiroteios eram mais intensos.
Foram à sua casa, a procura de armas, pois tinham a informação de que ele costumava caçar por esporte.
Foi preso, pois acharam que ele estava fugindo, quando o fotografaram transportando uma geladeira em um carro (na casa que estavam naqueles dias não havia uma).
Alguns dias depois, aportou no Lobito, minha cidade natal, o último navio previsto para aquelas épocas. Transportaria bananas para algum outro país africano, do qual não me lembro.
Meu pai entrou no navio como carregador de bananas. Se escondeu e assim conseguiu fugir para o tal país.
De lá, conseguiu um avião para ir a Portugal nos encontrar. Disse que lá, quando pousavam os aviões, famílias inteiras corriam desesperadas, muitas se perdendo.
Chegamos ao Brasil com umas poucas jóias de família, dois baús de madeira com roupas e brinquedos, e U$ 800,00 no bolso.
Na época havia emprego, é verdade, o que facilitou nossa adaptação.
Os horrores de uma guerra civil.
Muitos morreram e inúmeros foram mutilados nas duas décadas que se seguiram.
Não perdi parentes. Sequer ainda tinha amigos para me separar. Mas cresci sem raízes.
Exilada, expatriada.
Às vezes, me pego pensando em como teria sido minha vida em Angola...
Sobrevivemos. Sobrevivi.
Tenho um desejo enorme de passar uma temporada em Portugal, em busca de algumas referências. Mas isso é uma longa história.
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