terça-feira, 15 de maio de 2012

Os sem pátria e suas saudades

Saudade
"Termo criado pelos portugueses na época dos descobrimentos, para definir a solidão em uma terra estranha, longe dos entes queridos"


A cada domingo, invariavelmente, convivo com pais e tios rememorando nostalgicamente as histórias do Lobito, nossa cidade natal.


"Ah, aquilo que era vida..."
"Lá éramos felizes..."
"Costumávamos ir à Restinga, à Caponte..."
"Dançávamos merengue, era muito divertido..."

Histórias que eles sabem que jamais poderão reviver, pois o Lobito que conheceram não existe mais, após décadas de guerra civil, da qual fugiram tantos, como eles.
Na verdade, mesmo os que não passaram por uma experiência assim, que viveram em cidades ou países que apenas acompanharam o curso natural do passar do tempo, também não encontrariam mais o que viveram há 30 ou 40 anos.
Também têm saudade do passado.
Mas não vivem a sofrer.
No caso dos angolanos, ou de quaisquer outras pessoas ou famílias que foram obrigadas a abandonar suas cidades natais por um motivo ou por outro, as lembranças e as vivências foram congeladas naquele período da história.
O que era bom - e o que não o é juventude? - não se transformou, não amadureceu, não definhou. Morreu nos tempos áureos, no auge, antes do que seria natural.
As amizades se perderam do dia para a noite, irmãos, pais e filhos foram afastados por milhares de quilômetros, a padaria ou o mercadinho de todos os dias mudou, a escola dos filhos deixou de existir.
No caso de minha família, que abandonou casa, carro, roupas, brinquedos, fotos, livros, e tantos outros objetos que normalmente nos traz a sensação de pertencimento, de familiaridade, é plenamente compreensível tanta nostalgia.
Estas pessoas não puderam ir vivendo aos poucos as mudanças que o tempo produz, se acostumando a elas. Passam a vida a sentir falta do que lhes foi tirado, sem se dar conta de que provavelmente isto não existiria mais, mesmo sem a guerra. Uma vida de saudades.

Um comentário:

  1. Amiga querida, emocionante teu post, fiquei encantada, tanto que tu sabes da nossa história que começou com os portugueses, senti saudades, meu avô era judeu italiano e veio para o Brasil e não podia voltar, imagino que era assim as saudades dele, bjinho, Nina, parabéns pelo talento da escrita e pela tua sensibilidade, nos toca muito.

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